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por Duda Tawil, texto e fotos
Uma imersão espiritual, de cidadania e também humanitária. Essa tríade para começar a explicar a grande experiência, de apenas duas horas, em vivenciar o Turismo Religioso Católico Comunitário, que é oferecido e praticado, há poucos meses, no bairro do Uruguai, na Cidade Baixa, em Salvador, na região durante anos conhecida como Alagados, onde antigamente nossa freirinha Santa Dulce dos Pobres deu tantos e tantos passos nas frágeis pontes entre as palafitas, e água por todos os lados.
Hoje, felizmente, erradicadas, uma nova realidade salta aos olhos, principalmente desde março do ano passado, quando novos equipamentos foram inaugurados para a segurança, o saneamento, a vida cotidiana e o lazer de toda a comunidade, e seus visitantes.
Lançado em maio de 2024 na Secult - Secretaria de Cultura e Turismo do município - em dia histórico, pois tão sonhado, Alagados é um dos "rolês" ou roteiros do Guia de Afroturismo Salvador Capital Afro, chamado de Rolê Afro. O seu tema e título são inspiradores: "Vivência de Fé: Terra Santa dos Alagados". Ele remete ao fato de ali três santos terem colocado os seus pés, pois além do Anjo Bom da Bahia e do Brasil, a então Irmã Dulce, marcaram presença Santa Tereza de Calcutá em 1979 (até hoje uma base das suas irmãs missionárias ali está) e o Papa João Paulo II, que inaugurou em 7 de julho de 1980 a Igreja Nossa Senhora dos Alagados, construída em menos de três meses para a sua primeira visita ao Brasil. O tempo é hoje simplesmente o primeiro do mundo dedicado ao Santo Padre, visto que, pouco tempo após a sua canonização em 2014, passou a se chamar Igreja Nossa Senhora dos Alagados e São João Paulo II.
A maior entusiasta desse fabuloso, inédito e enriquecedor rolê é hoje presidente da Associação João de Deus, Hilda Almeida dos Santos. De voz mansa e pausada, aposentada, ela conta que há cinco anos era secretária da paróquia local. Agora, à frente da associação, ela toca várias ações e projetos sociais (ver @ass.joaodedeus e www.assojoaodedeus.org), que interage com a Pastur da Arquidiocese de São Salvador da Bahia. Vanderson José é seu administrador.
Ela explica melhor: "Eu faço um "Turismo Religioso Católico Comunitário", nos Alagados, com base nos projetos sociais, desenvolvimento e a sustentabilidade locais. Foi a partir dessas ações, junto com a comunidade local e a Pastoral do Turismo, que conseguimos dar visibilidade ao território e trazer as políticas públicas para as melhorias local."
O tour, ou ops!, rolê, é tranquilo, onde vamos interagindo com os moradores, como dona Dadá e suas histórias ao lado de Santa Dulce, que conta como era o bairro antes e depois dela, ou conhecendo o trabalho de pinturas em azulejos e mosaicos da artesã Hose Paixão, por exemplo. "É uma vivência árdua de perseverança cotidiana, de conscientização, valorização de pequenos atos. É um respeito mútuo", testemunha Hilda. Com certeza. Nascido e criado ali, o morador Gipa é um dos líderes comunitários, que explica com paixão e esperança o bairro, e fica à frente da rede social que criou: @complexodouruguai. Outro devoto da causa é Luciano, funcionário dos serviços gerais da associação.
Além disso, Hilda, na sua visão de turismo criativo, criou a sua Agência de Turismo Religioso Católico Comunitário, mas não sem antes passar pelos meios acadêmicos: "Apresentei esse projeto para o campo acadêmico de mestrado do Programa de Gestão Social da UFBA. Foi meu recorte de dissertação desse turismo, articulado com diversos atores. O resultado desse trabalho é um Roteiro Religioso Católico Comunitário, de experiência e vivência local, e que está no Guia do Rolê Afro da Prefeitura de Salvador", conta na maior modéstia. Vale a pena anotar o seu contato: 71.98661-7548 ou @mambre.tr
O ponto alto da visita, é, sem dúvida, a visita da igreja. E literalmente, pois ela está num pequeno elevado, que domina - ou abençoa? - toda a comunidade, e oferece uma vista de 360° para se compreender melhor a topografia e contrastes da Cidade do Salvador. Vemos ao longe os arranha-céus do Campo Grande e da Vitória, Lobato ao lado, histórico, onde pela primeira vez jorrou petróleo no Brasil, São Caetano, na perspectiva a Caixa d´Água mais adiante, assim como, do outro lado, a torre da Igreja dos Mares, o Santuário de Santa Dulce e, bem em frente, a Basílica do Bonfim.
Os tijolos aparentes do templo abrigam no seu altar o crucifixo policromado, e as imagens de Nossa Senhora dos Alagados, Santa Dulce, Santa Tereza de Calcutá e São João Paulo II, abraçado à menina que em 1981 furou o bloqueio para presenteá-lo com um barquinho, que tinha pedido à mãe para comprar no Mercado Modelo. Muitas histórias curiosas, lindas, comoventes, vêm à tona, sobre cada um deles. A imersão espiritual é completada pela luz através dos vitrais, e as orações de cada qual. Quem desejar assistir às missas elas são celebradas às 7h e 19h todos os dias, menos segundas, e domingos às 7h e 9h30.
Chega para cumprimentar o pároco local desde 2021, o padre Josuel Jesus da Silva, que em 19 de fevereiro vindouro às 19h vai lançar o seu livro na parte externa da paróquia, "Quatro Cordas do Coração", pela Editora Ipod.
Bem-vindos, pois todos já estão convidados!